O AMOR DORME NO PEITO DO POETA
Tu nunca entenderás quanto
te quero
porque vives em mim, adormecido.
Por vozes de aço agudo perseguido,
dentro de mim, em pranto, eu te encarcero.
Norma que agita igual carne e luzeiro
traspassa já meu peito dolorido
E as túbidas palavras
têm mordido
as asas de teu ânimo severo.
Nos jardins gente
aguarda entre boninas
teu corpo e minha angústia, a toda brida
em cavalos de luz
e verdes crinas.
Continua a dormir, tu, minha vida.
Ouve meu sangue roto em notas finas!
Olha que nos
espreitam sem medida!
GARCÍA LORCA, Federico. Sonetos do amor
obscuro e Divã do Tamarit. Tradução de
Afonso Félix de Sousa. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1998, p. 41.
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