quarta-feira, 5 de maio de 2010

Os Trabalhos do Corpo.




Com os lados, abertos em pares,
Remaneja ele a nova aurora esperada
Com os dísticos – como quem espera a noite
Atrás das coisas – cabelos, oriente de mãos
E dedos fracionados: aonde foste?

Com teus abruptos laços, pés no barro,
Onde estivestes tu, parceiro, que a noite
Aperta o meu peito e gasta a minha alegria?

Com teus vários anagramas posto,
Conserva de mim a brisa fria –
O outono é nosso, companheiro, rasgado:
E aonde forem teus pés, teus ligamentos
Estarei eu, a postos, como estátua.

Com o fausto do teu corpo em mim alinhavado,
Te deitas, homem, sobre a noite arcaica.
E vigia, que a sombra do teu corpo é minha sombra.
E a réstia do teu cheiro é o meu cheiro guardado –
amor dos cálices lavrados, amor das grotas,
Amor dos montes em pedra modelados.

Não é a própria gana de estar vivo?
Não é essa a mesma vida?
Vem de ti, vem de nós, o sangue espesso que
Alimenta as partes e abastece a fornalha.
Vem de ti a paciência de percorrer em mim
As partes amputadas – vem de ti a faina:
A obra e os trabalhos.

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