segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pequenas Vibrações:VIDEO + TEXTO.




Há pequenas vibrações.  Há cristais feitos de vento. Ou nem cristais são, mas apenas vento. São  objetos sutis. Ou nem objetos são, apenas ensaiam uma forma, não chegam a cristalizar-se. Há pequenas ondulações  - quase não se percebe. Mas quando o olho está atento – grãos de energia, películas tão finas – há tesouros que apenas por um breve instante rebrilham. São jóias delicadas, cuja breve existência é quase sempre conduzida em segredo.


Quem testemunhou o faiscar das gotas ao lado dos bujões de gás à tarde quando chovia? Quem soube, durante a chuva,  do mínimo tremor das folhas da planta abandonada nos fundos da garagem? Quem viu a dança das formas que a luz desenhava na água nessa hora? Ninguém viu, ninguém sabe. São pérolas quase imateriais.


Há pequenas vibrações. É preciso se aproximar com cuidado. São esquivas. Com a leveza das coisas que não duram – acontecimentos que ocupam um tempo minúsculo – o ritmo daquilo que é muito provisório. Ser testemunha ali é uma dádiva. É como penetrar num reino interdito, numa terra de surpresas.


Quase-objetos, essas pseudo-formas. Oscilam na fronteira entre o material e o espiritual, o concreto e abstrato,  visível e invisível. São fantasmas da matéria, e reverberam tênues, e o brilho que emanam logo desfalece, a beleza que exibem para sempre extinta.


Uma experiência como essa não é comunicável. As palavras são rudes demais para exprimi-la. Talvez a música, quem sabe uma música extremamente delicada (talvez Chopin ou Debussy) possa dizer alguma coisa sobre o assunto.


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