Amo-te
inteiro, com corpo, alma, ligamentos. Amo-te sem controle, inevitável.
Estás em mim, como o sangue flui em mim, corrente. Amo-te inteiro, até
as profundezas, e sempre. Amo-te completo e irrevogável – e és a peste
em mim adormecida, és o incêndio, a floração de tudo. E só quando estás
presente estou presente; só quando estás alegre estou alegre; só quando
respiras eu respiro. Amo-te às pressas, urgente. És o alento e a força –
embora de nada desconfies. És a festa onde meus olhos brincam, o abismo
onde a minha carne cai. Eu perco o coração, mas vou a ti com alegria. E
embora o teu silêncio me aferroe, vou a ti. Vou a ti, embora nada
indique que venhas a mim; vou a ti, sem que jamais teu braço se mova em
minha direção. Pois amo-te inteiro. E algo em mim insiste que és o único
norte – algo em mim resiste e diz: “ama-o inteiro, com corpo, alma,
ligamentos”. E vou, obedeço, como quem vai ao mundo, já que aos meus
olhos és o próprio mundo. Se porventura de existir desistires,
tudo desiste, tudo cai, a luz declina, flores murcham, tudo é vulto. E
eu não posso perder nem um minuto teu, nem um sorriso teu posso perder,
preciso de cada palavra, de cada gesto teu, de cada respiração. Pois
amo-te inteiro, até os subterrâneos. E cada minuto sem ti é um minuto
perdido. Cada passo, um passo em falso. Se estás ausente, agonizo; se
estás presente, gozo. E me perco de mim, e erro e lamento e apago as
luzes e choro pelos cantos. Mas se vens, a alma minha em festa,
bandeiras hasteadas, coro de vozes exultantes, luz. Pois amo-te inteiro,
com o corpo, com a alma, com os ligamentos.
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