Espera que um rasgo abra a carnadura da noite? Mas a noite é vestimenta. E está pousada. Espera que a adaga recupere da noite aquilo que restou remoto? Mas a noite é paciência e fúria. E se do mesmo caldo o exaspero e a prece comungam, é porque da noite comungamos nós, atados. E não se espera da noite a complacência das tardes; nem tampouco se exige da noite a placidez das manhãs. Pois é com sestro taciturno que ela nos transporta, madrinha dos flancos, é no labor opaco de seus negaceios que ela nos afunda e rege. Dela saímos macerados, tortos – como a chapa sai da forja ainda torta. Dela somos fruto e hospedeiros. Pois da opulência de seu porte e da audácia de seus mandamentos partilhamos. E estacamos, calados, quando ela abre seu arsenal de despojos. E nela nos fiamos, madrasta. E sobre seus andaimes caminhamos. E nos rejubilamos.
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