sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Os Impérios.


 Impérios. Deixe-me dizer, porque eu guardo em mim uma palavra. Ontem, quando as coisas. Hoje, quando as ruínas do teu corpo. Impérios de ontem. Teu corpo é um objeto inacessível. Tua cabeça é um jarro. Teus ombros são andaimes. Eu estou prestes. Imagino teu corpo na espuma. Império, és tu, de onde a vida, de onde prodigiosa fauna, de onde o cerne de todas as coisas provêm. Estás aqui? És como um augúrio. Sou teu rastro, sou o barro por onde os teus passos. Teu dorso é o campo por onde meço os movimentos do mundo. Aonde paras, lá estou, atento, como um cervo. Tenho carne e sangue quentes. Estou a três passos de ti. Mas és fundura e longitude. Eu sou amplidão, pastagem. Espero a tua vinda e o teu anúncio. Enquanto não vens, escrevo ideogramas na rocha. Nos impérios, onde habitaste, abunda o vinho e o mel. No teu corpo, labuto eu, imaginário, como um escriba. Estás aqui? Já sei de ti. És alto, infinito e forte. Vou a ti, como vão as formiguinhas. Sou teu manto e complemento. Já não vivo: espero a tua transfiguração, o céu, das cores frisadas, teu manto branco, teus olhos. Os impérios. De onde vieste, tais impérios, são os teus? Avança, a poesia deve estar mais viva, avança, amor, pois onde estás, lá estou eu, teu servo. Deixe-me dizer, porque guardo em mim vagalhões de lava. Aonde foste, teu peito é um vaso, teus olhos são dardos, teus dedos, teus artelhos. Estou em ti como a planta permanece enraizada na terra. Sou daqueles que fundaste, com teu nome. Eu mesmo, aqui paro, sou um nome vivo, à tua espera. Vens? Estás solto, e o vento. Estás atento - sobre o mundo. Eu permaneço aqui, aferrado ao corpo, movente, amargo, fugidio.






***


Impérios, sei de ti. Deixe-me dizer, que tenho em mim os ares, as tormentas. Não descanso. Sei que estás aí, sei que és quieto, sei que és escuro. Eu sou escuro, nos impérios, avanço sem teus rumos, avanço sem teu  perfume, sem teus braços. E ponho em movimento os instrumentos que me deste, arrumo teu céu, subo aos teus montes, contemplo teus entardeceres. Mas nunca vens. Aonde foste? Aos impérios. Sou um pequeno ser escurecido e busco a tua luz. Nos impérios, a tua força, o músculo, as luzes, tudo age.

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