terça-feira, 13 de abril de 2010

Para Rebentar.



Para rebentar - moventes os membros, moventes as faces. Se de um teu silêncio horrorizado emergem vozes. Se de dentro do teu fígado. Para voltar a trotear os pagos, changueiro, para voltar a percorrer as plagas e cortejar mananciais feitos de carne e rejuntados ossos. No perímetro de um arquipélago perfaz-se a lida: a Terra é uma convulsionada. A vida organiza-se segundo um ritmo. São cláusulas de um pacto. São sentenças.

Quem, o afogueado? Cediças, as calças, nas ladeiras onde a vida desliza - quem? Quem com guinchos de flamingo, seus tentáculos, suas nádegas. Quem com tripas, unhas, pregas, coração - planejava um antepasto - um atentado contra as diretrizes. A vida é uma falácia - e dentro a latência. Falência dos teus rudimentos. Quebranto, sacramento, prece. Quem, o alardeado, o bandônio, o andarilho, o procurado. Até o fundo das valas, nas grotas, nas veredas tortas - quem?

Trançado, urdido, vincado - terneiro amarrado por dentro, seguro por dentro, aguilhoado. Nas charqueadas, tombado sobre a madrugada, em jaula, em câmara vedada. Vergado sob o peso de estacas, remanejado em currais, dependurado sobre a estrutura de ferro. Titã, escalpelado, torcido por uma máquina. Pequena glândula dentro da cabeça.

Antes, as coisas abertas - um busto, um flanco, um vaso. Antes, reabertas as coisas, atrás de ti, atrás da vida, que é perto de onde as coisas, que é perto de ti, sobre as tuas costas. Raspagem dos pêlos de um polvo. Suor que escorre de ti em direção à vida. Antes, que na dança de ilhargas, rejuntadas as postas, se falou num tempo - tempo de coisas reatadas. Mixagem dos ombros de um potro. Argamassa, coragem, partição da vida - e vesículas de onde brota a estação - a invenção das coisas. Sobre mim mesmo, teus dentes cravados, raiz das coisas retraçadas - um duto, um aqueduto, um túnel.

2 comentários:

GH disse...

"a Terra é uma convulsionada...".

Em duas palavras: poema perfeito.

GH disse...
Este comentário foi removido pelo autor.