"Quero cadavezmaisaprender a vercomobeloaquiloque é necessário nas coisas: - assimme tornarei um daqueles que fazem belas as coisas. Amor fati: seja este, doravante, o meuamor! (...) E tudo somado e emsuma: quero ser, algumdia, apenasalguémque diz Sim!"
Nietzsche*
Hoje é umsábadotãoforteque todas as coisas estão vibrando numa freqüênciamaisalta. Tãoforte e luminoso é o sábado, pois há uma luzincandescentequefecunda o dia. Tãoforte e majestosoessesábadoemseu derramar-se contínuo. É eternamentenovo e forte e beloessesábado, porquepousaagorasobre o mundosuaasaluminosa, porque é voraz e porquealgoemmimque esteve encerrado queragoratransbordar e nascer. Hoje é umsábadotãoforteque os espíritosqueme rondam resolveram dançar no jardim. E sãorisonhosemsuaglóriaessesespíritos do sábado e são infantis e graciososquando dançam e sãogenerososquandome apontam o sábado, com o dedobrincalhão: “- Olha, vive o sábado, estesolquesobre o teusábadobrilha, aproveita-o, bebe a luz do sol desse sábado e preenche teucoraçãocom a vidamaispuraque do teusábadojorraemborbotões!” Hoje é umsábadotãoforteque nenhuma palavra pode contersua desmesura, é umsábadotãovívidoque nenhuma teia de discurso pode circunscrevê-lo, não há nadaque possa infligir a essesábado o menorreparo, não há nadaque possa corrigi-lo, nadaque possa restringir a amplitude desse sábado. O sábadonão aceita esquemas. Porqueele é tãoforte e tãobelo e poderosoemseu vir-a-ser quenão há nadaque nele queira ser corrigido, nada nele a ser justificado, não há nada nesse sábadoque queira ser alterado, não há nenhuma forçacapaz de tornaropacoseubrilho, nenhuma jaulacapaz de contersuaalegriafuriosa, nenhumfechar de olhos, nenhumcerrar de cortinas, nenhumtampãooualçapãocapaz de ocultarourenegar o júbiloque nele e através dele se sustenta. Com uma gratidãotamanhaqueme invade o peito, de poderparticipar da festaforte desse sábado, terpulmõesprareceber uma lufada de vento, terolhossensíveis à luz e terouvidosparaouvir a música – que é combadulaques e arabescos e cheiro de grama recém-cortada que o sábado abre comportas, mais a salivagrossa de umcãosobre o piso da varanda, mais as mandalas de vidroque giram e mais a luzque atravessa as janelas da casa e as mandalas, são essas e todas as outras coisasque compõem o sábado e é comelasqueeu danço e envio emdireção ao sábado – em todas as direções - umhino de louvor.
Referência da epígrafe: NIETZSCHE, Friedrich. A GaiaCiência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Aforismo 276, p. 187.
Nenhum comentário:
Postar um comentário