sábado, 20 de março de 2010

Uma Estação no Inferno.


A vida é um riste.
Estamos suspensos.
Sou a frincha entre o estar e não-estar;
e no entanto estou: sou um corpo cheio de sangue,
porém calado.

Arrisca-se, no eclipse,
quando partilho de mim mesmo o cerne.
Estou atento, porém triste.
Vivo, porém ferido.
Mas me levanto, quando a noite cai,
e tento respirar.

Ninguém me sabe.
Trago a dor para a qual não existe o elixir.
Mas sorrio quando me sorriem.
E tento parecer contente.
Só me captam os que estão próximos.

E não sei caminhar,
e não sei partilhar as minhas alegrias,
e não sei viver a não ser quando tudo silencia:
quando a vida resiste, apesar de exaurida,
numa oculta, tóxica lida.

E mesmo a ti, amigo, não sei pôr em verbo
a angústia que me rói inteiro.
E mesmo a ti, irmão, não sei nomear o verme
que por dentro me carcome.

Sei que sou excesso – e dor.
Pois toda a minha alegria é tentativa de alegria.
E todo o meu alívio, esperança de alívio.
Mas vivo – e a vida em mim resiste,
como uma chama resiste frente ao vento.

E ressuscito das jornadas alquebrado,
e me recomponho em partes separadas,
e nunca estou inteiro – a não ser na Música,
(sem a qual a vida me seria um erro).

O trem no qual viajo tem uma estação no inferno.
Queres vir comigo?

Um comentário:

Rafa disse...

Ygor, parabéns pelo Blog!
Gostei, especialmente, desse post "Uma Estação no Inferno".
Muito tocante!

Continuarei minha leitura...

Abraço!