terça-feira, 1 de junho de 2010

Um poema de Federico Garcia Lorca II.



DO
AMOR IMPREVISTO
 
Ninguém compreendia o perfume
da magnólia escura do teu ventre.
Ninguém sabia que matizavas
um colibri de amor entre teus dentes.

Mil corcéis persas sobre a tua fronte,
praça ao luar, dormiam sono leve,
enquanto eu enlaçava quatro noites
tua cintura ardente, oposta à neve.

E teu olhar, entre jasmins e gesso,
era um pálido ramo de sementes.
Eu busquei, para dar-te, por meu peito
as letras de marfim que dizem sempre

Sempre, sempre: jardim de minha angústia,
teu corpo fugitivo para sempre,
teu sangue em minha boca, tua boca
já sem luz para minha morte à frente.


GARCÍA LORCA, Federico. Sonetos do amor obscuro e Divã do Tamarit. Tradução de Afonso Félix de Sousa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p. 49.

Nenhum comentário: