Na vereda do condado há um ventrículo.
Há um fruto à espera da colheita
uma lua de calendas, um trigal de prata.
Há rochas sob a noite arcaica,
matagais de hastes compridas e folhas suculentas.
Há um beijo úmido e profundo,
um silvo perdido que de quando em quando se distingue.
Há um longamente esperar e um pairar ao lado,
um roçar de braços e uma ausência.
Há um retiro onde se depositam mortos,
um caminho escuro e pedregoso percorrido à pé,
uma lonjura de baques, rajadas, rodopios.
Há um olho eternamente aberto na distância,
há um templo e um fogo eternamente aceso.
Há um chacoalhar de sementes, um farfalhar de cascalho,
no pátio há um rumor de passos.
Há um susto e um murmúrio surdos,
um desejo que mal se soletra,
uma palavra que não se pronuncia.
Há um música carnosa, de putanas, de hetaíras,
um chamamento, um convite que não se recusa.
Há um deserto de metal farpado
e um mar de duras amplitudes.
Há um sol na arrebentação, de uma luz que ofusca,
há um rebrilhar que enlouquece, um faiscar que cega.
Há uma pupila dilatada nesse mar
e um desejo de sempre estar sob essa luz.
Há uma luta severa entre parceiros,
uma rasteira e um abraço letal.
Há o amor que se oculta na morte
e o fervor de permanecer fiel na morte.
Há uma vibração epidérmica nas coxas
um repentino frenesi nas vísceras.
Há um conter apaixonado o outro corpo,
um ovalar-se desses corpos em fusão
que é supernova mais brilhante extraída da noite:
quando um olho alaranjado penetra o outro olho
e de ambos, enquanto se deslocam
é ainda possível divisar, de longe, um ponto luminoso,
a claridade de um satélite.
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