sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Uma Falange de Espinhos.







Há espinhos dentro do meu peito.
São longos e pontiagudos artefatos.
Estão dispostos por toda a extensão do meu peito,
Mas são muitos no canal estreito
Que divide um flanco e outro.

Digo: no centro do peito, entre um mamilo e outro
Há uma concentração de espinhos finos.
São  perspicazes, travessos, insolentes –
São feitos de aço e tintilam quando perturbados.

E não são imóveis: mas se aprofundam e corrompem
A matéria frágil do meu peito
A cada vez que eu me lembro de ti e do teu hálito.

Eles laceram a matéria carnosa do meu peito
(meu coração valvulado, meus átrios)
A cada vez que eu reavivo em mim
A lembrança do teu corpo pequeno e compacto,
A pressão do teus lábios sobre os meus,
O passeio lento da tua língua sobre a minha língua.

No interior do centro do meu peito há espinhos.
Uma legião, digo, de espinhos ajuntados.
Formam, sobre a carne do meu peito, uma coroa.

É uma dor redonda e substanciosa e constante
A dor causada por essa falange.

É uma dor que eu aceito e que me pertence:
Já que essa dor sou eu, inteiro e vivo e macerado.

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