domingo, 27 de junho de 2010

Sobre o Amor. - Parte III.


Há uma espécie de amor que, contra a vontade de quem ama, recusa-se a morrer. Ela é rara, mas existe. Faz parte das coisas humanas, é irmão da morte e equivale a uma fonte inesgotável de dor. Outra espécie de amor, menos selvagem, pode ser aniquilada quando o amante constata a indiferença do amado. O amor do qual falo não aceita a morte. Ele persiste no coração do amante, como uma planta que mesmo sem luz e água continua a crescer e mantém seu viço apesar da falta de alimento. Aliás, a razão de seu viço é a própria falta de alimento. Assim, quanto menos alimento recebe, mais exuberante a planta medra, e tinge tudo com uma substância viscosa. Um amor dessa espécie é muito perigoso. Ele subjuga e exige do amante a renúncia a toda alegria, energia, saúde, impulso. A vida do amante torna-se vida-para-o-outro; tudo o que antes lhe interessava perde a cor; tudo o que ele antes prezava como valioso é esquecido. Pois o único valor, para o amante, é a presença. A presença do outro é para ele o valor absoluto, perto do qual todo o resto do mundo torna-se palidez e tédio. 

(Nota: O texto acima nasceu como diálogo ou resposta a um outro texto intitulado "Saída". Ele deve sua pequena existência a estas palavras de Ricardo Dalai, autor do blog "Reticências..." que pode ser acessado aqui ou no menu de blogs logo à direita.)

3 comentários:

Ricardo Dalai disse...

putz...
(enfim)

gabicanale disse...

Este "amor" é a falta de si mesmo.

Tiago Violante disse...

Não... não acho que seja a falta de si mesmo; pelo contrário, talvez seja o excesso de uma autopresença solitária, vazia e insuportável, precisando urgentemente de outra presença para o Sentido...

bela descrição...